Libertador, refrescante, belo. Não, ao contrário de ínumeros espectadores por o mundo fora, Up - Altamente! não me desiludiu. Nem ao mais remoto pedaço. Muito pelo invés, o último trabalho da PIXAR encontrou em mim um fã devoto, de uma obra-prima que arquitecta o desafio de uma delicada e carismática natureza, de uma humanidade a consagrar, do mais dotado espírito. Up - Altamente! é simetricamente solúvel numa fórmula de emancipação da companhia de animação, e auto-referencia-se com o incessável monopólio da equipa, como o mais aceso farol de imaginação e competência técnica, aguçando-o ao patamar de obra maior.

Olhemos então os 14 anos de história da indústria cinematográfica que revolucionou não só o género em que se pratica, como todos os outros ramos: depois de 22 Óscares ganhos em toda a sua filmografia, a PIXAR deu estreia na longa metragem Toy Story, que quatro anos depois ganharia uma sequela, sendo ambas as fitas agraciadas por toda a crítica mundial. O pitoresco Uma Vida de Insecto seguiu-se, e com o seu inovador conceito gráfico e escrito, arrecadou sucesso, todavia não tanto como o 'filme dos brinquedos'. Monstros e Companhia dinamizou também o império que se erguia perante o novo século, com o seu irrefregável sentido humorístico, e depois dele surgiu o tão dito apanágio na empresa: À Procura de Nemo lacerou os recordes de bilheteira e afiou o sucesso crítico, e os ínumeros galardões a que foi intitulado. O duplamente oscarizado (Melhor Filme de Animação e Melhor Edição de Som), The Incredibles - Os Super-Heróis encantou multidões com a sua maré de inusitados efeitos e proporções. Dois anos depois, é a vez de Carros para brilhar face ao público mais jovem, mas não a outras conquistas: a crítica considerou-o como brando, morno e facilmente esquecível, e na (mais-que-sabotada) categoria académica a que foi adoptado, Happy Feet roubara-lhe o óscar. Contudo, ninguém esperaria o que se seguira no ano seguinte: Ratatui. Com mais de 40 prémios em punho, sendo um deles a estatueta de Melhor Filme de Animação e outras quatro nomeações para a edição de 2008, a oitava longa-metragem da PIXAR tornou transparente o estatuto do estúdio e irradiou genialidade e brilhantismo daí para a frente, com o mega-aplaudido Wall-E o icónico robot sozinho no planeta. A proferir, são as metáforas nos argumentos destes últimos trabalhos. Mais adultos e altruístas, emergem subliminarmente os esboços de filtros dramáticos, familiares e realistas. E Up - Altamente!, serve-se eternizado por uma causa em ambivalência com a de O Estranho Caso de Benjamin Button - o medo de envelhecer e deixar para trás todos os nossos planos sem a concretização que esperariamos, à espera da odisseia de uma vida, sonhada pelo ingénuo olhar de uma criança. Enfatizada por um registo óbviamente infantil (mas não obstinado por tal) - como assim fora pretendido de iniciação - Up - Altamente! não baliza forças, e equilibra todos os segundos com a devida e procurada balança, despertando o movimento de equidade e deslacando o incandescente resultado cabeçado por tal viabilidade - uma visualização recheada dos melhores momentos de tensão, que leva o espectador à maior ânsia, adornando-o com uma guloso aspecto cómico e uma seriedade credível.

A termo técnico, a dupla de realizadores Pete Docter e Bob Peterson lapidam a que considero a melhor direcção dos estúdios, agora pertencentes à Walt Disney Company, comprados pela módica quantia de 7400 milhões de dólares. Se pensavamos que haviamos visto o mais exímio dos trabalhos em Wall-E, surpreendemo-nos em Up - Altamente!, extenunado o mítico frame da casa flutuante, auxiliada pelos milhares balões de múltiplas e variadas cores. Na delirante e nunca limitada edição de Katherine Ringgold, o poder da animação a computador ganha a força que nunca obteve e representa na mais esplêndida liquidação de olhares. O nomeado a um Óscar para Ratatui, Michael Giacchino (Star Trek, Speed Racer) dá voz a uma orquestra de luxuosa sonoridade, nas ritmadas jazz de memórias, aos atribulados violinos em tempos de acção.

Desde as simulações artísticas, à iluminação (cuja um integrante é português, e o seu web-site encontra-se aqui), englobando todas essas maravilhosas secções a um óculo artístico habilidoso, é seguro afirmar que Up - Altamente! possuí uma das mais densas espirais estéticas dos últimos anos.

Canalizado pelo espírito de aventura desde que se consegue recordar Carl Fredricksen (Edward Asner na dobragem original), viveu toda vida com a amada Ellie, à espera de estes mesmos realizarem o sonho de criança: visitar uma cascata na América do Sul. Contudo, aquando dos óbices diários, o velho casal não conseguiu alcançar esse objectivo juntos. Agora, Carl decide fazê-lo em circunstâncias e companheiros muito pouco usuais.

Up - Altamente! respira uma condecorada pureza, aventura e animação, emoção e sentimento, como nenhum outro filme alguma vez o fez; alargando um horizonte lá longínquo, que só a perfeição pode tocar. E a PIXAR, com o este seu último prestígio, solidificou a empírica reputação que consegue lá chegar, e tomar um intemporal lugar.

O MELHOR: a fidelidade com que Pete Docter e Bob Peterson aliaram as componentes argumentativas na película;

O PIOR: a curta duração;

NOTA: para a adorável curta Partly Cloudly, que é exibida antes do filme e para a dobragem portuguesa;